Bastidores 032: Mariana Enriquez e o terror urbano de “Nossa parte de noite”

O livro 

Nossa parte de noite, de Mariana Enriquez

Autora de As coisas que perdemos no fogo e de Este é o mar, Mariana Enriquez é expoente de uma nova literatura de terror que explora os signos desse gênero a partir da vida comum, do dia a dia cru e urbano. Sua escrita é marcada pela juventude nos subúrbios de Buenos Aires pós-ditadura e por um conjunto de inspirações artísticas e literárias que vão do cult ao underground, de Nirvana a Tropicália. Nossa parte de noite, livro enviado em maio no clube intrínsecos, não foge a essa regra.

A história acompanha pai e filho cruzando a Argentina de carro sob os olhos de soldados armados nos últimos anos da ditadura militar argentina. Gaspar é o filho que o pai tenta, em uma cruzada solitária, resguardar do destino que lhe é designado. A mãe do garoto morreu em circunstâncias obscuras, em um suposto acidente. Ele, assim como o pai, recebeu o chamado para ser médium em uma sociedade secreta, a Ordem, que se relaciona com a Escuridão em busca de vida eterna e que utiliza a violência policial para encobrir seus rituais atrozes. 

Guarda ilustrada da edição intrínsecos de “Nossa parte de noite”

Na travessia narrada por Mariana, o terror sobrenatural se mistura com outros bastante reais. Casas cujo interior se transforma; passagens que escondem monstros inimagináveis; andanças na Londres psicodélica dos anos 1960; David Bowie; fetiche por pálpebras humanas; liturgias sexuais enigmáticas, entre outros fatos e fantasias. Tudo isso tem como pano de fundo a repressão da ditadura militar, os desaparecidos políticos e, mais adiante, a incerta chegada da democracia e os primeiros casos de Aids em Buenos Aires.

A história brinca com os conceitos de sombra e luz, placidez e fúria, bem e mal, dualidades que Mariana Enriquez domina como poucos, nos lembrando sempre, como ela própria diz, que “a vida é um conto de terror”. 

 

A revista 

A revista 032 abre com uma apresentação da história e uma entrevista de Elisa Menezes com Mariana Enriquez, na qual a autora fala sobre suas inspirações e sua relação com o Brasil. Em seguida, o jornalista Jotapê Jorge contextualiza o cenário de Nossa parte de noite em uma linha do tempo que pontua as transformações políticas e sociais da época, enquanto nos apresenta às bandas que protagonizaram o pop rock portenho dos anos 1960 a 2000. Além disso, Sérgio Luz nos apresenta a importância da resistência das Mães da Praça de Maio e a memória de seus filhos e netos desaparecidos. 

Em seguida, Nathan Fernandes reflete sobre as diferentes camadas que se intercalam entre conceitos como o bem e o mal, e, ilustrando essa zona cinzenta, três artes de Pedro Correa imaginam pai, filho e o mundo com o qual Mariana Enriquez os cerca.

 

Marcador e cartão-postal

O marcador e o cartão-postal revelam a arte da capa da edição que chegará às livrarias pelo menos 45 dias após ser enviada no clube, em um formato diferente, sem o acabamento especial da edição do intrínsecos.

 

Brinde

Em maio, os intrínsecos receberam um kit de velas aromatizadas, um elemento presente em diversos momentos assustadores da história. Com esse brinde sensorial, os assinantes podem se sentir dentro da história, seja nos rituais macabros ou no dia a dia de Juan e Gaspar. Acenda as velas caso sinta a Escuridão se aproximando. 

 

intrínsecos digital

Além da caixinha, os assinantes do clube também têm acesso a conteúdos extras todos os meses no intrínsecos digital. Para apresentar o universo sombrio da autora, disponibilizamos um trecho de As coisas que perdemos no fogo, primeiro livro de Mariana Enriquez publicado pela Intrínseca, e convidamos o autor de Bom dia, Verônica, Raphael Montes, para explicar as características e as influências do terror urbano em um vídeo exclusivo.

Mergulhando no misticismo dessa história, a astróloga e designer Ísis Daou criou 10 cartas de tarot inspiradas em Nossa parte de noite. Em um artigo, a tradutora do livro Elisa Menezes investigou o estilo de escrita da autora, que mescla a voz do narrador com a dos personagens. 

Por fim, apresentamos o guia de leitura do mês, com perguntas e tópicos para debater e refletir após a leitura. 

 

Um comentário sobre “Bastidores 032: Mariana Enriquez e o terror urbano de “Nossa parte de noite”

  1. Este livro é uma obra prima, misturando ocultismo camuflando os horrores da ditadura Argentina.. Estarrecedor saber que a ditadura dizima famílias e pessoas em quaisquer partes do mundo, inclusive no Brasil. Genial a narrativa da autora.. e a fluidez do texto também. Impossível nao ficar impactado com essa hist´ória.

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