Uma viagem (com volta) aos cemitérios mais inusitados do mundo

Em Água fresca para as flores, livro de janeiro do clube intrínsecos, conhecemos o cemitério em Borgonha que é lar de Violette. Explorando esses lugares tão cheios de histórias, a tradutora Elisa Menezes listou alguns cemitérios famosos do mundo — seja pela beleza, excentricidade ou pelos moradores. 

Os assinantes do clube receberam o tour com exclusividade no mês de janeiro no intrínsecos digital, um espaço interativo para aprofundar a experiência da leitura com artigos, sorteios, quiz, ilustrações, guia de leitura e todos os detalhes dos bastidores da caixinha.

Père Lachaise – Paris, França

Fundado em 1804 por Napoleão Bonaparte, o maior cemitério da capital francesa é também um dos mais famosos do mundo, recebendo cerca de dois milhões de turistas por ano. Afinal, o Père Lachaise reúne uma extensa lista de defuntos célebres. Entre os seus 70 mil túmulos, estão os dos escritores Oscar Wilde (1854-1900) e Marcel Proust (1871-1922); o do compositor de música clássica Frédéric Chopin (1810-1849); o de Alan Kardec, fundador do espiritismo (1804-1869); e o do casal Abelardo (1079-1142) e Heloísa (1101-1164), protagonistas de uma das mais trágicas histórias de amor da Idade Média.

Além dos mortos famosos, o Père Lachaise abriga em seus 44 hectares três memoriais da Primeira Guerra Mundial e uma grande variedade de estilos de arte funerária (barroco, gótico, monumental, neoclássico, neobizantino, haussmannien, entre outros). Misto de santuário e parque, o primeiro cemitério laico de Paris passou a ser disputado pela burguesia a partir de 1817, quando a administração da cidade transferiu para lá os restos mortais dos escritores Molière (1622-1673) e La Fontaine (1621-1695).

A sepultura mais visitada do cemitério provavelmente é a do cantor americano Jim Morrison (1943-1971), que desde 1991 conta com vigilância constante. Naquele ano, por ocasião do 20o aniversário de morte do líder da banda The Doors, uma multidão desenfreada de fãs resolveu prestigiar a última morada do artista — e a polícia acabou usando bombas de gás para dispersar a massa.

 

Neptune Memorial Reef – Miami, EUA

Para visitar este memorial fúnebre, é preciso roupa de mergulho e oxigênio. Projetado para ser o maior recife artificial do mundo, o Neptune Memorial Reef (Recife Memorial de Netuno) se estende por 2.000 m², a mais de 12 metros de profundidade e a 5 km do litoral de Key Biscayne, em Miami. Inaugurado em 2007, o mausoléu subaquático tenta recriar a Cidade Perdida de Atlântida e é mantido por uma empresa que oferece serviços de cremação.

O recife pode ser visitado gratuitamente por qualquer mergulhador, mas quem quiser descansar para sempre no fundo do mar precisa pagar. As cinzas são misturadas com um cimento especial e colocadas em moldes em forma de conchas e pilares. Depois de secos, os moldes recebem uma placa de bronze com nome, datas de nascimento e morte, e espaço para uma mensagem. Mergulhadores levam as lápides para o fundo do mar, onde elas passam a compor o recife, que serve de habitat para diversos organismos marinhos, como corais, lagostas e ouriços.

“Um dos lugares mais deliciosos que jamais contemplei”. Assim a pintora e escritora britânica Maria Graham descreveu em seu diário, em 1823, o British Burial Ground ou Cemitério dos Ingleses, o mais antigo cemitério a céu aberto do Brasil em atividade. Inaugurado em 1809 em terras doadas por D. João VI, a necrópole foi erguida para atender à crescente comunidade inglesa protestante que aportava no Rio de Janeiro, então capital colonial do país, e que não podia ser enterrada nas igrejas católicas. Originalmente, o cemitério contava com um cais onde desembarcavam os corpos dos ingleses que morriam na travessia do oceano.

Embora ainda preserve árvores, a capela mortuária e sepulturas originais – a mais antiga data de 1812 –, o cemitério perdeu muito do ar bucólico que encantou Maria Graham. Com o aterramento para a construção do Porto do Rio de Janeiro, no século XX, o Cemitério dos Ingleses, localizado no bairro da Gamboa, perdeu a vista para o mar e assistiu ao processo de decadência de suas imediações. Em 1988, foi definitivamente tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural por sua importância histórica, arquitetônica e cultural.

Os caixões pendentes de Sagada, Ilha de Lução, Filipinas

Há mais de 2000 mil anos os habitantes do município de Sagada, nas Filipinas, cumprem um peculiar ritual funerário: os idosos constroem seus próprios caixões, geralmente esculpidos em trocos – ou contam com a ajuda de parentes, caso não tenham condições físicas de realizar a tarefa.

 

Em vez de enterrados, os ataúdes são pendurados dentro de cavernas ou em encostas rochosas, perto dos caixões suspensos de seus ancestrais. O costume estaria relacionado à crença de que quanto mais altos os mortos forem colocados, maior será a chance de seus espíritos alcançarem uma natureza superior após a morte. É possível ver ao longe os pequenos caixões de madeira pendentes nas falésias, muitos já em avançado estado de deterioração – convém não se aproximar muito: de tempos em tempos eles despencam de suas posições precárias, verdadeiros precipícios. Também é possível encontrar caixões pendentes no vilarejo de Bo, no sul da China, e na ilha de Celebes, na Indonésia, onde o costume é praticado pelo povo Toraja.

 

British Burial Ground ou Cemitério dos Ingleses – Rio de Janeiro, Brasil

“Um dos lugares mais deliciosos que jamais contemplei”. Assim a pintora e escritora britânica Maria Graham descreveu em seu diário, em 1823, o British Burial Ground ou Cemitério dos Ingleses, o mais antigo cemitério a céu aberto do Brasil em atividade. Inaugurado em 1809 em terras doadas por D. João VI, a necrópole foi erguida para atender à crescente comunidade inglesa protestante que aportava no Rio de Janeiro, então capital colonial do país, e que não podia ser enterrada nas igrejas católicas. Originalmente, o cemitério contava com um cais onde desembarcavam os corpos dos ingleses que morriam na travessia do oceano.

Embora ainda preserve árvores, a capela mortuária e sepulturas originais – a mais antiga data de 1812 –, o cemitério perdeu muito do ar bucólico que encantou Maria Graham. Com o aterramento para a construção do Porto do Rio de Janeiro, no século XX, o Cemitério dos Ingleses, localizado no bairro da Gamboa, perdeu a vista para o mar e assistiu ao processo de decadência de suas imediações. Em 1988, foi definitivamente tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural por sua importância histórica, arquitetônica e cultural.

Cemitério São João Batista – Rio de Janeiro – Brasil

Nove ex-presidentes da República, dezenas de “imortais” da Academia Brasileira de Letras, centenas de personalidades das mais variadas áreas: com uma população dessas, não à toa o São João Batista é conhecido como o “Cemitério das Estrelas”. Inaugurado em 1852 por D. Pedro II, ele é um dos mais antigos do país e reúne um número expressivo de obras de arte tumular, com destaque para as esculturas de Rodolfo Bernardelli e Humberto Cozzo. Seus túmulos e mausoléus variam entre os estilos neoclássico, gótico e eclético, e contam parte relevante da história do país.

 

Nos últimos anos, a administração do cemitério vem implementando uma série de iniciativas para estimular o turismo cemiterial, como visitas guiadas gratuitas, a inclusão em algumas sepulturas de placas de QR Code (que proporcionam mais informações sobre seus ocupantes) e até a contratação de sósias de figuras célebres enterradas ali, como Santos Dumont (1873-1932), Chacrinha (1917-1988), Cazuza (1958-1990) e Clara Nunes (1942-1983). Também é possível passear pelos mais de 220 mil m2 do cemitério — o único localizado num bairro da zona sul carioca (Botafogo) — por meio do Google Street View.   

 

Wadi us-Salaam, Najaf, Iraque 

De longe ele parece mais uma cidade do deserto, mas na verdade o Wadi us-Salaam (Vale da Paz, em tradução livre) é um dos maiores e mais antigos cemitérios do mundo, além de importante centro de peregrinação para os mulçumanos.

 

Localizado na cidade de Najaf – a 160 km de Bagdá, capital do Iraque –, o cemitério abriga o santuário de Ali Bin Abi Talib, o terceiro local mais sagrado do Islã para os xiitas. Ali Abin, que era primo e genro do profeta Maomé, é considerado o primeiro imã pelos xiitas islâmicos e teria sido sepultado no Vale da Paz por volta de 661 d.C. Estima-se que mais de 5 milhões de corpos estão enterrados nos 10 km2 do cemitério, cuja maioria dos túmulos é feita com tijolos cozidos e gesso. Há também criptas subterrâneas e túmulos mais recentes, que chegam a medir 10 m de altura. 

Antes de partir para o combate, os soldados xiitas costumam visitar o mausoléu de Ali e pedir para serem enterrados ao seu lado. Durante a guerra do Iraque, em 2003, o cemitério foi cenário de confronto entre tropas americanas e iraquianas.

Cemitério de Okunoin, Monte Koya, Japão

O maior e mais antigo cemitério japonês é também um santuário onde está enterrado o monge Kobo Daishi (conhecido como Kukai), fundador do Budismo Shingon e uma das pessoas mais reverenciadas na história religiosa do Japão. Kukai foi o primeiro a colonizar, em 816, o Monte Koya, situado a 800 metros de altura, em meio a selva, e reconhecido como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco. O caminho de 2 km que leva até o mausoléu de Kukai, morto em 835, conta com mais de 200 mil túmulos e lápides. 

A beleza natural e arquitetônica de Okunoin, com suas árvores centenárias, pontes e esculturas, convida à contemplação e à meditação. Um dos destaques do cemitério é o Torodo Hall (Salão das Lanternas), que conta com 10 mil lanternas doadas por adoradores e mantidas acesas permanentemente. 

 

Cemitério Monumental de Staglieno, Gênova, Itália

Inaugurado em 1851, quando Gênova era um importante centro econômico e artístico, o Cemitério Monumental de Staglieno é um verdadeiro museu a céu aberto. As famílias ricas da cidade competiam para ver quem tinha a sepultura mais impressionante, bela e memorável. Tal competição impulsionou o desenvolvimento de uma tradição de esculturas fúnebres, principalmente de estilo realista, que eram colocadas em seus túmulos.

Os dois extensos corredores principais do cemitério são galerias que abrigam obras de escultores como Augusto Rivalta e Giulio Monteverde. Este último ficou famoso pelo magnífico anjo criado para o túmulo da família Oneto. A estátua, de 1882, foi encomendada por Francesco Oneto, presidente do Banca Generale, e é considerada uma das mais belas e sensuais do gênero. É possível encontrar réplicas do Anjo Monteverde em diversos cemitérios do mundo, de Lima a Frankfurt.  

Localizado numa encosta no bairro de Staglieno, o cemitério tem mais de 1 km² de área e inclui uma réplica do Panteão de Roma, bosques e túmulos célebres, como o da esposa do escritor Oscar Wilde, Constance Mary Lloyd Wilde (1859-1898), e o da família Appiani, que estampa a capa do disco “Closer” da banda de rock Joy Division. 

La Recoleta – Buenos Aires, Argentina

Ele é um dos principais pontos turísticos de uma cidade repleta de pontos turísticos. Localizado num dos bairros mais nobres da capital portenha, o Cemitério da Recoleta abriga em suas vielas estreitas panteões luxuosos que são verdadeiros palácios. As famílias ricas enterradas ali competiam pelo preço e a qualidade de caixões e túmulos, e gostavam de ostentar. Projetada em 1822 pelo arquiteto francês Prosper Catelin, a Recoleta abriga obras de arte neoclássicas, figuras ilustres argentinas e muitas histórias fantásticas – reais e lendárias. 

O túmulo mais visitado é o da idolatrada ex-primeira-dama Eva Perón, também conhecida como mãe dos pobres. O que muita gente não sabe, contudo, é que o corpo dela não está no caixão, mas sim enterrado a oito metros do chão. Trata-se de uma medida de segurança para evitar que ele seja profanado e/ou roubado – algo que já aconteceu diversas vezes durante os 24 anos que separam a sua morte e subsequente embalsamento, em 1952, e a transferência do corpo para a Recoleta, em 1976. Entre os vizinhos célebres de Evita estão a escritora Silvina Ocampo (1903-1993) e diversos ex-presidentes.

 

Cemitério de Chaukhandi, Karachi, Paquistão

Acredita-se que as deslumbrantes tumbas deste antigo cemitério islâmico foram esculpidas entre os séculos XV e XVI para abrigar guerreiros de uma tribo local. Construídos sobre plataformas elevadas em forma de pirâmide, os túmulos de pedra arenosa são constituídos por placas com delicados entalhes que reproduzem tramas geométricas e desenhos figurativos.

Os túmulos destinados aos homens retratam cenas de caça, homens a cavalo e armas como espada, arco e flecha. Os das mulheres, por sua vez, contam com desenhos que representam ornamentos como pulseiras, colares e anéis.  

Algumas tumbas estão posicionadas sobre pilares com acabamento em estilo hindu.

O cemitério, considerado Patrimônio Mundial pela Unesco, se espalha por uma área de mais de 5 km2, e está situado a 29 km da cidade de Karachi, a maior e mais populosa do Paquistão. 

 

 

 

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