Bastidores 022: O racismo e a busca por liberdade em A dança da água

O livro

A dança da água, de Ta-Nehisi Coates

Julho de 2020

Com A dança da água, Ta-Nehisi Coates ― premiado jornalista norte-americano dono de incontestável currículo dedicado à não ficção ― estreia no romance com a fantástica saga de um homem comum e, ao mesmo tempo, absolutamente incomum. A história de Hiram poderia ser também a de uma criança separada à força da mãe, negligenciada pelo pai e privada do direito de honrar suas tradições e definir o rumo da própria vida. Ou ainda a história de como a cultura e as tradições de um povo sobreviveram às inúmeras tragédias impostas a ele ao longo de séculos.

Por toda a América as plantações de tabaco floresceram e trouxeram riqueza aos senhores de terra durante o século XIX. Mas, quando a bonança começa a entrar em declínio, Howell Walker já vislumbra o próprio fim e sabe que precisará de um substituto para administrar os últimos dias de Lockless, sua propriedade no coração da Virgínia, Estados Unidos. Logo fica claro que seu único herdeiro, Maynard, não tem a menor aptidão para a missão. E mesmo o jovem Hiram, com sua resiliência e memória infalíveis, não poderia fazê-lo ― além de filho ilegítimo de Walker, ele é um escravo.

Mas, quando os meios-irmãos se afogam nas águas do rio Goose, a vida de Hiram é poupada por um poder misterioso e até então oculto dentro dele, uma herança materna que se perdera junto com as lembranças da mãe, vendida e levada para nunca mais voltar. Desse breve encontro com a morte brota em Hiram a urgência de escapar do lugar que foi seu lar e prisão desde o dia em que nasceu.

A dança da água narra toda a atrocidade infligida a homens, mulheres e crianças negros ao longo de gerações ― os grilhões da escravidão e o desmembramento cruel de inúmeras famílias ―, compondo um relato comovente e místico sobre destino e propósito, perda e separação. Herdeira de um lugar de fala que busca o registro sublimado por séculos de escravidão, a obra de Coates reverbera em todos nós a enorme necessidade de reparação histórica. Pelo anseio de restituir a individualidade das pessoas negras, usurpada e desumanizada pelo sistema — suas histórias, aspirações, amores e psiques —, Coates passou a última década burilando a saga de Hiram Walker, que agora se junta ao intrínsecos. Para o autor, “resgatar essa humanidade perdida não é papel da não ficção. Sem a construção de um indivíduo, sem as suas histórias, não é possível sentir de verdade”.

A dança da água foi eleito um dos melhores livros do ano pela Time e estará disponível nas livrarias e lojas on-line do Brasil a partir do dia 22 de setembro, mas você já pode garantir a sua edição na pré-venda.

 

A revista

Raiz da folk music norte-americana, os spirituals são cantos nascidos com a dor dos povos africanos escravizados ― diz-se que a abolicionista Harriet Tubman usava os versos de “Go Down, Moses” para ser identificada nas ruas pelos escravos a quem ia salvar. Foto: Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.

A dança da água é daqueles livros que, mesmo que você devore em um fôlego só, com certeza vai voltar depois para se deter em alguns trechos.

Na revista intrínsecos 022, trazemos um panorama de fatos e números sobre a humanidade e a escravidão, pinçados pela pesquisadora Renata Santelmo, celebramos o premiado quadrinista brasileiro Marcelo D’Salete e seu reconto dos conflitos do Quilombo dos Palmares e vislumbramos horizontes mais impetuosos, coloridos e  tecnológicos ao descobrirmos mais sobre o afrofuturismo, da Wakanda de Pantera Negra ao pop brasileiro.

 

Marcador e cartão-postal colecionável

O marcador e o cartão-postal revelam a arte de capa da obra que chegará às livrarias em setembro de 2020, em uma edição diferente, sem o acabamento especial da edição do intrínsecos.

 

 O brinde

A chave para o extraordinário poder de Hiram é a memória. Pensando nisso, o brinde de julho foi um bloco de anotações com caneta e post-its para que o leitor registre fatos e momentos importantes e não se esqueça de nada.

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